sexta-feira, 17 de outubro de 2008

CLUBE DO MAESTRO NO "O GLOBO"

Prezados leitores,

Estou feliz que você tenha vindo até aqui para visitar o Clube do Maestro e eu tenho uma boa notícia para lhe dar. A experiência foi relativamente curta mas bem sucedida e O Globo agora é a nova casa do nosso Clube, aonde eu o espero para uma visita: http://oglobo.globo.com/blogs/clubedomaestro/.

Para acompanhar minhas outras atividades, visite: www.ricardoprado.com.br

Espero você por lá!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

PIANOLATRIA

É isso mesmo – o piano é uma idolatria. Existem várias, em música: o violão, a ópera, o tango, Chopin, Chico Buarque de Hollanda. Instrumentos, compositores, gêneros, danças, que ultrapassam a fama, a obra, o tempo, e se tornam, para alguns, algo da ordem da adoração.

O piano exerce seu fascínio não só por causa do repertório para ele escrito, pelo elenco de compositores geniais ou de intérpretes fascinantes. Observando o público, acho que o piano – mais do que qualquer outro instrumento – desperta o desejo de tocar. Ele é bonito, confortável, e nós não precisamos aprender sopros, embocaduras, arcadas e afinações. Se você acionar as teclas, ele toca. A fantasia, então, é sair tocando, por magia. Assim como o cão Rowlfie e o urso Fozzie, esta dupla inesquecível do Muppet Show.

CONCERTOS DIGITAIS

A estréia desta segunda temporada da série dos CONCERTOS DIGITAIS no Teatro SESI foi de muita alegria – pelo reencontro de amigos de longa data e, em especial, pela presença de vários alunos do SESI e do Grupo da Terceira Idade – uma platéia alegre e animada pela descoberta de informações e novos repertórios.

Nesta quarta-feira, nosso programa será dedicado aos compositores:

PIANO: O INSTRUMENTO COMPLETO

SEGUNDA PALESTRA – 04/07/2007

OS GÊNIOS: O FASCÍNIO DOS COMPOSITORES

A riqueza expressiva, a beleza da sonoridade, as possibilidades do instrumento ao mesmo tempo cantor e percussivo, fizeram do piano um desafio e um fascínio para todos os grandes compositores. Como utilizar os repertórios antigos? Como explorar as grandes formas? Como dialogar com a orquestra? Como inventar uma nova expressão? Como conquistar mais platéias?

Destaques do Repertório:

Pianistas como Vladimir Horowitz, Arthur Rubinstein, Murray Perahia, , entre outros, interpretam obras de Schubert, Schumann, Liszt e Chopin.

Festival Internacional e Permanente de Música de Humor

Nosso amigo PIANO freqüentou muito a comédia. Um clássico é Chico, um dos irmãos Marx, pianista de estilo muito... próprio. Este é um pequeno trecho do filme Go West em que ele toca para seu irmão Harpo que, qualquer dia destes, apresentarei aqui tocando sua harpa.

CAIXINHA DE MÚSICA

Esta é uma PIANOLA. Uma outra maneira de resolver a fantasia se não somos pianistas. Nosso pianista mecânico interpreta Little Brown Jug.

ABRIR A CAIXINHA

Este pequeno documentário nos mostra como um piano de concerto é fabricado desde a preparação da madeira. O instrumento é um Mason e Hamlin, uma tradicional fábrica americana, de Boston, criada em 1854.

GALERIA

ARTURO BENEDETTI MICHELANGELI

O mestre Alfred Cortot disse que ele era “um novo Liszt”. Formou-se em Piano e Composição em Milão com 14 anos e, aos 19, foi lançado para a carreira internacional pelo Primeiro Prêmio no prestigioso Festival de Piano de Genebra; a banca era presidida por ninguém menos que Ignaz Paderewski.

Foi um grande solista, mas, também, um grande professor e um estudioso capaz de sacrificar diversos convites a cada temporada – e seus cachês fantásticos – para ter mais tempo para estudar. Suas interpretações têm uma profundidade que só o conhecimento do pensamento musical - associado à uma técnica primorosa, capaz de facilitar qualquer execução – permite.

Selecionei 3 gravações que me parecem um retrato da sua extrema elegância, simplicidade e clareza. Ravel, como Debussy, estavam entre seus preferidos e a gravação com seu amigo Sergiu Celibidache e a Filarmônica de Munique, foi feita em 1992, quando ele tinha 72 anos.

Sonata 449, em Si menorDomenico Scarlatti

Sonata No. 32 – Opus 111 – 1o Movimento - Maestoso; Allegro con brio ed appassionatoL. van Beethoven

Concerto em Sol MaiorMaurice Ravel

segunda-feira, 25 de junho de 2007

ANIVERSARIANTE DO DIA: O PÁSSARO DE FOGO

ANIVERSARIANTE

Hoje nós acendemos todas as velinhas e não conseguiremos apagar nenhuma. Nosso aniversariante é um certo pássaro feito de fogo por um russo genial que trouxe para a música melodias e ritmos que ele buscou nas tradições russas não como uma citação, não como um nacionalista, mas como uma memória que o constituía. Igor Stravinsky estreou o seu Pássaro de Fogo neste dia no ano de 1910 na Ópera de Paris. O libreto, baseado num conto popular russo, foi escrito e a coreografia do balé foi composta por Michel Fokine, coreógrafo principal dos Balés Russos, companhia de Sergey Diaghilev. O figurino foi desenhado por Leon Bakst. Ouça esta interpretação da Suíte para Orquestra – Dança Infernal, Cantiga de Ninar e Hino Final – com a Orquestra Filarmônica de Berlim, sob a regência de Claudio Abbado.

CONCERTOS DIGITAIS








PIANO: O INSTRUMENTO COMPLETO

PRIMEIRA PALESTRA – 27/06/2007

AS ORIGENS: A TECNOLOGIA DA NUANCE

O piano não descende do cravo. Ele corresponde a uma busca de músicos e construtores de instrumentos que, por muito tempo, buscaram um instrumento harmônico, de teclado, capaz de realizar dinâmicas – tocar com maior ou menor intensidade: mais forte ou mais piano. Quando um construtor de Florença realizou a mágica, estava criado o milagre: o pianoforte.

Destaques do Repertório:

Pianistas como Vladimir Horowitz, Arthur Rubinstein, Murray Perahia, , entre outros, interpretam obras de Schubert, Schumann, Liszt e Chopin.

PESQUISAS

Estes são os resultados de um mês de pesquisas. Muito obrigado a todos os votantes que, assim, ajudaram o Clube a programar-se. Outras virão.

PRIMEIRA PESQUISA: SEU GÊNERO MUSICAL PREFERIDO

Sinfônica – 24,84%

MPB - 17,20%

Jazz - 14,10%

Ópera - 10,83%

Câmera - 8,28%

Tango - 7,64%

Blues - 7,01%

Rock - 6,37%

Outra - 3,82%

157 votos

SEGUNDA PESQUISA: A CIDADE MUSICAL DOS SEUS SONHOS

Nova Iorque - 26,74%

Viena - 22,09%

S.Petersburgo –10,47%

Paris - 9,30%

Praga - 9,30%

Londres - 6,98%

Buenos Aires - 3,49%

Chicago - 2,33%

Outra - 9,30%

86 votos

GRANDE ARTE

Eu sou um fã de diminutivos e acho que “cineminha” designa um programa inteiro – avaliar opções, comer pipoca, sair em silêncio de mãos dadas, comparar opiniões, voltar para casa feliz. Mesmo quando não gosto do filme. E não é coisa que se faça ou que se vá, mas como onda oportuna e de tamanho certo: “cineminha” é coisa que se pega.

Nós não pegávamos um cineminha há meses, por conta da gravidez, do parto, dos horários da amamentação, da falta de vontade de ficar longe da Lara. Outro dia nos programamos e seguimos a orientação da minha mãe: fomos assistir ao Um lugar na platéia (Fauteuils d' Orchestre de Danièle Thompson).

Ela tinha gostado do filme e elogiava aquilo que procurávamos: um filme bem feito, leve e despretensioso, para sair do cinema de alma leve. O que se costuma chamar de “obra de evasão” - um livro, um filme que sirva para esquecermos da vida, para fugirmos dela. Mas não é sempre assim? Não me lembro de uma obra marcante que não me tirasse do mundo tal como ele é. O melhor do que li ou assisti me tirou daqui, do agora, do que sempre nos enganamos ao chamar de realidade. Talvez seja mesmo esse o fundamento da fantasia: esquecer da realidade, fugir dela e, assim, provocar idéias, sentimentos, imaginação para o que a tal realidade, essa arrogância da mais precária das racionalidades, não dá conta. Sérgio Abranches usa uma expressão (no mais das vezes falando de cinema) que me parece perfeita: “intelectual de plantão”. O sujeito só pode ler, ver e ouvir coisas que contenham uma “mensagem”, que o faça “refletir”. Pois eu acho que gargalhadas adoçam o fígado e azeitam as engrenagens, que ver Paris nunca é demais, que personagens bens construídos não estão apenas no teatro grego lido no original. Quem me ensinou a amar os livros, as idéias e a necessidade de fantasiar foram uma boneca de pano, um sabugo de milho sabichão, um porco que era marquês reunidos num sítio com um menino corajoso, uma menina impertinente, todos adoçados por uma avó e uma cozinheira cheias de afetos, guloseimas e sabedorias.

Minha mãe, os comentaristas e críticos que encontrei tinham razão. O filme é uma delícia, o elenco é ótimo, as cenas de Paris, lindas. Mas, para minha surpresa, vi mais do que isso em Um lugar na platéia.



INCOMPLETOS

Certamente Jessica é uma moça vinda da província que quer seguir os passos da avó que trabalhara no Hotel Ritz, mas se contenta com o emprego de garçonete num café da Avenue Montaigne e não tem nem um lugar para dormir. Claro que que Catherine não se satisfaz com o sucesso popular ou com a fortuna que ganha na TV, que detesta o diretor da peça que está ensaiando e que quer muito interpretar Simone de Beauvoir no filme de um diretor americano que, por sua vez, não está feliz com o rumo do seu trabalho. Também é verdade que o pianista Jean-François Lefort trabalha e viaja demais e não agüenta mais o mundo artificial e superficial do circuito internacional de concertos, e que sua mulher, Valentine, não entende a cara feia do seu marido consagrado que não valoriza toda a dedicação dela, muito menos o desejo absurdo de morar à beira de um lago isolado. Também é verdade que Jacques Grumberg está triste pela viuvez, pela doença que enfrenta, pela briga interminável com seu filho Frédéric que acha seu pai um idiota em namorar a moça com quem ele próprio já teve um caso, e que não agüenta mais seu próprio casamento. Em resumo, todos eles estão insatisfeitos. Como é claro que, diante do sucesso e da fortuna de tanto deles, o filme poderia ser um desfile de mimados entre aplausos e milhões de euros. Mas não é disso que o filme trata.

O filme que vi nos apresenta um pianista doido para se livrar de tudo o que, em geral, mais se deseja: viagens internacionais, suítes nababescas, agendas e teatros lotados, ovações intermináveis, cachês milionários. Ele quer voltar ao que ama: a música, o piano, a sua mulher. Vi um filme sobre um homem que, tendo perdido a mulher com quem construiu tudo do que se orgulha, prefere vender o que acumulou porque precisa concentrar-se no essencial: viver. Seu filho precisa livrar-se da dor nas costas, do casamento traído, da amargura contra seu pai, para buscar o que está por ali, ao alcance das suas mãos cheias de possibilidades: uma escultura de Brancuzzi em que estará o que significa e o que promete – a memória da mãe, o presente do pai, o beijo de um futuro amor. Está lá. Como também a porteira do teatro que, faltando o talento para o canto, passou a vida perto dos artistas, acarinhada por eles, ouvindo e cantando, o dia inteiro, a música francesa que traz sempre pendurada nos ouvidos. Quem nos conta isso é ela, ao ser homenageada no dia de sua aposentadoria e nos confessar, singelamente, que, assim, foi feliz. Lá também há um feliz diretor de cinema que descobriu a estrela dos seus sonhos – inteligente, esperta, grande comediante, faminta, capaz de propor uma Simone que tinha que aturar aquele Sartre horroroso dado conquistas inúteis: ele era péssimo na cama. Mas a Simone que Catherine propõe tinha um motivo a movê-la, não uma razão a explicá-la – ela o amava. Felicíssima está esta atriz que, insatisfeita com fama e fortuna, está ali para nos lembrar que não nos enganemos – a felicidade está lá, incompleta, a realizar-se, onde ela sempre estará: além. O sucesso, como indica a sua raiz latina, succedere, não é um lugar aonde chegamos, mas algo em que podemos permanecer. O nome que damos a esta busca nomeia nossa vida. Sabendo que a fama e a fortuna trazidas pela ridícula série de tv em que trabalha não a satisfará, ela está ali para realizar aquilo com o que escolheu batizar-se - a sua arte.


CINEMINHA

A arte me parece ser a grande estrela do filme, seu tema e sua revelação. A de fazer música, de representar, de dirigir. Eles estão todos ali para mostrar que ela não está apenas no aplauso: até as platéias parisienses podem ser muito ignorantes. Ela também não está apenas na obra: colecionar, possuir, reter, não é ter a arte. Ela não está em parte alguma senão naquilo que Brancuzzi não adivinhava ao esculpir na pedra um beijo, ou em cada nota que Jean-François cavou para compreender e compartilhar Beethoven, como na paixão do colecionador Jacques e da porteira do teatro, e da mulher do pianista. Jessica está feliz. Conheceu tanta gente, viu o mundo para além da província, conseguiu seu emprego, já não perde tempo chorando por pena de si mesma, nem tem medo de não encontrar um lugar para dormir – ela fez vários amigos. Sua avó veio visitá-la, ela ganhou um beijo de um homem que acaba de entender que ainda pode amar e está próxima dos artistas melhores que há. Não porque são famosos ou ricos; mas porque não estão dispostos a trocar nada pela busca, incessante, interminável, da arte. Ela sabe o lugar que quer: “um lugar na platéia – nem tão perto, nem tão longe”. Esse é o lugar da arte. Nem do autor, do intérprete ou do público, a arte está sempre sendo feita em algum lugar, em diversos momentos, entre eles. Como a felicidade, ela está além. Saí do cinema feliz.

CINEMINHAS

Enquanto escrevia, me lembrei de um outro artigo que escrevi para a coluna que tive, a convite de Marcos Sá Corrêa, no no.com.br. Nela eu elogiava um outro filme que adorei e que, naquela época, também recebeu “críticas” da mesma turma do “obra de evasão”. Resolvi publicar aqui no nosso Clube na seção de ARTIGOS. Com ele aproveito para lançar uma nova seção: CAIXINHA DE MÚSICA. A primeira é para mostrar uma antiguidade que, além de ser uma caixinha de música, também é uma pequena orquestra mecânica com direito a maestro e tudo.

Festival Internacional e Permanente de Música de Humor





A seção de humor desta semana também é dedicada ao tema das caixinhas de música. O quarteto de cordas francês LE QUATUOR - formado pelos violinistas Jean-Claude Camors e Laurent Vercambre, pelo violista Pierre Ganem e pelo celista Jean-Yves Lacombe dedica-se ao humor musical e é de uma extraordinária qualidade musical, além de excelentes atores. Estive com eles em Paris alguns anos atrás, e, desde então, eles esperam que este nosso FESTIVAL caia na real para eles virem ao Brasil. Vamos aguardar. Enquanto isso...

BOITE A MUSIQUELE QUATUOR

terça-feira, 19 de junho de 2007

CONCERTOS DIGITAIS - CONVITE















Como foi grande o sucesso no ano passado, semana que vem recomeça a série dos CONCERTOS DIGITAIS patrocinada pelo SISTEMA FIRJAN, aqui no Rio de Janeiro. Serão mais 15 palestras que farei sobre 4 temas diferentes, começando pelo PIANO. Ao longo desta semana darei mais detalhes da programação, mas já reserve o horário de 12:30 das quartas-feiras, para nos encontrarmos para ouvir boa música no TEATRO SESI. Espero por vocês lá.


TEATRO SESI:
Av. Graça Aranha, 1 - Centro / RJ
Telefone: 2563-4166
Bilheteria: 2563-4163
Funcionamento da Bilheteria: 14h às 19h (todos os dias)
E-mail:
teatro.sesi@firjan.org.b

Festival Internacional e Permanente de Música de Humor

Sucesso imediato! Assim que eu gosto: montes de elogios para Bobby McFerrin e Richard Bona. Já que gostaram tanto, aí vai uma gravação do improviso - cheio de humor - que ele fez com a cantora polonesa Urszula Dudziak. Para nossa alegria e orgulho, Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu.



MEU BRASIL INTERNACIONAL

Já que vimos como é genial – e de puro bom humor musical – o Tico-Tico no Fubá, vamos dar uma voltinha rápida para ver o que ele andou aprontando pelo mundo. Para começar, a principal responsável pelo seu sucesso, Carmen Miranda e o Bando da Lua.




Uma passadinha pela Espanha para ouvir Paco de Lucía.




E é claro que, podendo, eu vou dar a palavra final a um grande maestro. Uma oportunidade de comprovar o sucesso de Tico-Tico no Fubá e uma prova brilhante de que seriedade musical é fazer bem boa música. Daniel Baremboim com a Filarmônica de Berlim.


segunda-feira, 18 de junho de 2007

ANIVERSARIANTE DO DIA: PAUL McCARTNEY

Hoje ele completa 65 anos e eu acho que merece ser comemorado. Eu sei que um monte de gente acha (como eu) que Paul McCartney era o lado “certinho” dos Beatles. Ele conseguia me irritar com aquela vozinha chorosa, melosa, açucarada que toda hora ele inventava fazer. Here, there and everywhere é uma canção linda, mas lá vinha ele com a tal da vozinha... Mas isso é uma óbvia injustiça – Paul McCartney é um dos maiores compositores de canções de todos os tempos. Vamos começar com um exemplo um pouquinho menos conhecido e que demonstra o que quero dizer: uma harmonia, uma seqüência de acordes, que parece existir desde sempre – embora não exatamente assim; sobre ela, uma melodia que vai voltar de repente, que vamos nos pegar assobiando quando menos esperarmos; uma letra singela, capaz de criar em nós uma identidade muitas vezes misteriosa.
Paul McCartney - Blackbird



Em 29 de agosto de 1966 os Beatles se apresentaram em São Francisco, na Califórnia. Como sempre, acharam que ninguém ouvia o que estavam cantando, que ninguém parecia interessado e eles estavam exaustos daquilo; além da preocupação com a segurança, com as freqüentes ameaças dos malucos. Não houve qualquer tipo de aviso, ninguém sabia que aquela seria a última apresentação pública da banda; logo depois eles anunciaram que nunca mais fariam shows ou participariam de turnês. Os Beatles de agora em diante só se reuniriam para gravar. Dez meses depois, em junho de 1967 – portanto um aniversariante que comemora 40 anos este mês - apareceria o primeiro resultado dessa concentração que eles quiseram e que tinham agora – o álbum que, pra muita gente, é o melhor que eles realizaram, Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Se Revolver foi o disco de experimentar sem medo, este era o disco da experiência polida, refletida e realizada com calma, capricho, sofisticação. Ali a crítica reconhecia que rock n’ roll podia ser arte – sem que isso significasse que não tivesse mais senso de humor. Cada um dos quatro pode realizar suas mais ambiciosas fantasias musicais e George Martin teve todos os recursos técnicos que necessitava. O disco era uma obra concebida e realizada como um todo, para ser ouvida e compreendida do início ao fim. Isso não era inédito, mas era novo para milhões de jovens do mundo inteiro para os quais aquele disco tão esperado cumpria a promessa de que eles tinham uma cultura deles, com seus próprios gênios criando suas obras-primas.
Paul teve a idéia em um avião em Los Angeles – e se eles não fossem mais eles? E se fizessem um jogo de se “esconder” na identidade de um grupo com um imenso nome absurdo? Anos mais tarde eles declararam que estavam exaustos daquela história de Beatles; eles não eram mais garotos nem rapazes, nem eram “performers”, uns caras bonitinhos no palco fazendo as meninas gritarem. Eles eram adultos e eram artistas, e estavam dispostos a tudo para prová-lo. O jogo e a aparente brincadeira eram, no fundo, uma busca de liberdade artística. Paul McCartney canta Sgt.Peppers Lonely Hearts Club Band com o U2.


Aquele ano teria ainda o álbum Rubber soul, um salto na qualidade das letras das canções e nas experiências de George Martin com o grupo. Eles já estavam mostrando que não seriam para sempre os rapazes bem comportados que as meninas que gritavam, que as mães certinhas e os pais preocupados queriam que eles fossem. Suas letras começavam a se tornar ambíguas, complexas, sem um sentido óbvio. Cada vez mais instrumentos estranhos aos grupos de rock vão aparecendo. Em Norvegian wood aparece uma cítara e em Michelle uma guitarra grega; no trecho instrumental de Think for yourself um piano com sonoridade de cravo. Como Lennon e McCartney estão tentando marcar suas personalidades musicais o disco acaba sendo uma vitrine de canções incríveis dos dois. Mas o calendário da Beatlemania ficaria mesmo marcado pelo sucesso mundial, primeiro lugar em todas as paradas de sucesso, de uma canção lenta, um pouco triste, com uma combinação instrumental que teria mandado para o olho da rua qualquer diretor musical – Yesterday é cantada apenas por Paul com um violão e um quarteto de cordas. Era só isso, e o mundo adorou.




Mas a dupla dele com John Lennon era mesmo da pesada – Eleanor Rigby é o exemplo obrigatório. Mas ela não era só do Paul? Pois é...





O álbum duplo White album tanto pode ser visto como uma experiência frustrante quanto interessante pela mesma razão – o disco é uma confusão. Paul não parece nos seus melhores momentos, mas experimenta em várias direções com Honey pie, o country Rocky racoon, a divertida Ob-la-di, ob-la-da e, acho que a mais interessante de todas, Helter Skelter, um antepassado da metaleira. Paul está outra vez escrevendo uma das suas mais belas canções. John estava se separando da mulher, Cindy, para ficar com Yoko e uma das coisas mais duras era perder o convívio com o filho, Julian. Paul, que era como um tio para o menino, estava sofrendo por esta separação, como também não estava tranqüilo sobre seu parceiro desde a chegada daquela poderosa e estranha garota japonesa. Ele apareceu com essa canção como se fosse para Julian, mas John entendeu cada palavra como sendo para ele. Paul não queria que George tocasse guitarra nessa música; não queria ofender o amigo, mas também não fazia diferença se isso acontecesse, desde que não aparecesse nenhuma guitarra. Quando percebeu isso, teve o primeiro sinal de que os Beatles não durariam muito mais. Bom, estas são algumas historinhas dessa grande canção: Hey Jude. Esta gravação foi feita em um show em homenagem ao nosso aniversariante, no mesmo Royal Albert Hall aonde estávamos assistindo ao Concerto para piano de Grieg. Os convidados são muito especiais.




Logo viria, em setembro de 1969, Abbey Road, o último disco dos Beatles a ser gravado e que, por causa do tempo gasto em Let it be no trabalho de estúdio, foi lançado antes. O grupo continuava obstinado, trabalhando sua arte e esta foi a despedida. Nunca harmonias tão lindas foram ouvidas em um grupo de rock, nem guitarras tão pesadas e furiosas ou aqueles sons estranhos do sintetizador Moog. Come together é uma obra-prima. George Harrison floresceu como compositor neste seu caminho de duas músicas por álbum e agora tinha para apresentar canções como Here comes the sun e Something. Este é o único álbum do grupo que pode ser comparado a Sgt. Pepper’s.

O último álbum a ser lançado, foi então Let it be, o único disco dos Beatles recebido pela crítica com hostilidade. O disco foi gravado com muita antecedência, mas o produtor Phil Spector resolveu realizar algumas melhorias de pós-produção e mixagem em estúdio, trabalhando em separado com cada um deles, nunca com a banda inteira. O uso de instrumentos de cordas também foi muito criticado. Let it be também foi um filme que retrata, que documenta os ensaios e as gravações do disco, deixando claro que a banda sofria de tensões internas pesadas – como vocês verão a seguir. Como sempre, há uma coleção de canções de primeira linha. Mas as crises já eram então incontornáveis e, no dia 10 de abril de 1970, Paul McCartney anunciou que estava deixando os Beatles por causa de “diferenças pessoais, comerciais e musicais”. Durante muitos anos houve esperança de que eles se reunissem mais uma vez, pelo menos para um grande show. Isto nunca aconteceu e se tornou impossível em 8 de dezembro de 1980, quando John foi assassinado. É difícil escolher a música para encerrar esta conversa. Dá vontade de ouvir uma porção de canções, mas acho que a melhor seria esta que o Paul compôs depois de uma noite em que sonhou com sua mãe que já tinha morrido há dez anos, quando tinha 14 anos. Ele estava atravessando uma fase difícil por causa das drogas, e teve um sonho em que ela lhe dizia que “tudo ficará bem”. Para terminar, Let it be.

Festival Internacional e Permanente de Música de Humor


Eu não esperava que tanta gente gostasse deste Festival! Um monte de mensagens pedindo mais. Algumas delas me perguntam como é este tal humor que não provoca gargalhadas. Acho que o humor é esta manifestação da inteligência que se arrisca, que não teme cair no chão, se fazer de bobo, e que consegue derrubar as defesas, pôr para brincar. Humor é a inteligência lambendo a navalha.

Na música não precisa muita coisa para fazer os músicos brincarem. Escolhi o exemplo deste dueto entre o cantor-compositor-regente-ator Bobby McFerrin e baixista-cantor-compositor Richard Bona. Olha para estes dois. Eles se divertem, nos divertem, são engraçados, mas também líricos e delicados. Se gostarem, depois tem mais.

Bobby McFerrin e Richard Bona - Improviso

PALAVRA DO MAESTRO 004

Cosmopolita – adjetivo

1. o cidadão do mundo;

2. pessoa que recebe influências culturais de outras culturas e países;

3. pessoa que viaja muito e que se adapta facilmente a outros modos de vida;

4. na ecologia, espécies encontradas em muitas partes do mundo.

VOCÊ SABIA?

Cosmopolita vem do grego “kosmos”, que significa cidadão, e “politis”, que é cidadão, palavra derivada de “polis”, cidade ou estado, que dá origem a, por exemplo, metrópole, política ou polícia. Alguns etimólogos acreditam que esta mesma raiz aparece no sânscrito como “pur”, cidade. Singapura é Singa Pura – Cidade do Leão.

LÍNGUA AFIADA

Estava com saudades de escolher as palavras aqui para o Clube. Mas os aniversariantes andam provocando mais e elas, coitadinhas, vão sendo adiadas. Há por aí uma campanha contra palavras importadas, principalmente do inglês. A mim parece um desperdício. Os idiomas se fortalecem na troca de vocabulários e se enfraquecem na adoção de sintaxes estranhas.

Se repararmos, há uma tendência na adoção de palavras e termos de povos que se destacam em alguma atividade em algum momento. O direito romano legou uma terminologia em latim usada por advogados e tribunais no mundo inteiro até hoje – até com algum exagero. O francês dominou os termos técnicos da gastronomia e da culinária, que logo teve que compartilhar com o italiano e, mais recentemente, já se percebe um avanço enorme de palavras chinesas, japonesas e tailandesas, desde que começou a adoção de pratos, produtos e técnicas orientais na comida do ocidente. O italiano é o idioma das indicações musicais mas não é – como houve que defendesse tempos atrás! – a única língua para cantar ópera – Mozart teve que brigar com a corte vienense para escrever suas óperas em alemão. No Brasil essa luta durou, pasmem!, até que Alberto Nepomuceno, com O Garatuja, demonstrasse que se podia cantar em português. Por isso, não é nenhum absurdo que termos da publicidade e do marketing, como da internet, sejam em inglês. Nós, brasileiros, importamos o futebol da Inglaterra, nos tornamos a referência mundial do esporte nos últimos 50 anos e criamos e adaptamos toda a terminologia inglesa ao português. Amar o meu idioma – como tudo mais – não é pretender defender nele uma pureza idealizada e reacionária. Amar meu idioma é torná-lo mais dinâmico na imensa cacofonia da Babel globalizada.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

ANIVERSARIANTE DO DIA: EDVARD GRIEG



É isso mesmo, tem toda razão o leitor – este Clube está parecendo uma casa de festas. Hoje é o aniversário de EDWARD GRIEG, compositor norueguês nascido em Bergen em 1843, num 15 de junho como hoje. Este é o Ano Grieg, para lembrar os 100 anos de sua morte mas, é claro, eu prefiro comemorar seu nascimento.

Grieg é o compositor norueguês mais conhecido, principalmente pelo sucesso de seu Concerto para Piano em Lá menor e das duas Suítes Peer Gynt, com os temas principais da obra composta para a encenação do poema-dramático Peer Gynt do grande poeta Henrik Ibsen, também norueguês.

Alberto Nepomuceno casou-se com a pianista norueguesa Walborg Bang, aluna de Grieg, de quem o grande compositor brasileiro tornou-se amigo, tendo morado uma temporada na sua casa em Bergen.

Para comemorar, vamos ouvir o seu Concerto para Piano em Lá menor, interpretado pelo pianista (também norueguês!) Leif Ove Andsnes em um Prom Concert, no Royal Albert Hall, em Londres, com a Orquestra da BBC, sob a direção de Leonard Slatkin. Leif foi premiadíssimo por sua gravação dos concertos de Rachmaninov com a Filarmônica de Berlin, sob a regência de Antonio Pappano, e tem sido considerado um dos melhores pianistas de sua geração.

Como sempre, infelizmente, a apresentação está partida em três, mas vale a pena. Boa música!

Concerto para Piano em Lá menor, Edvard Grieg - Parte 1

Concerto para Piano em Lá menor, Edvard Grieg - Parte 2

Concerto para Piano em Lá menor, Edvard Grieg - Parte 3

terça-feira, 12 de junho de 2007

CONTO UM CONTO

Este foi publicado pela Revista INSIGHT INTELIGÊNCIA. Adalgisa era tão perfeita que parecia mais uma memória esculpida pelo tempo do que uma mulher. Leia aqui.

ANIVERSARIANTES DO FIM DE SEMANA


MUITO A COMEMORAR


Pois é, gostei de comemorar aniversários. Neste fim de semana, aconteceram dois muito importantes.

No dia 10, Judy Garland, nascida neste dia, em 1922. Para mim, ela será para sempre Dorothy, a menina do interior empoeirado e triste do Kansas, que sonhava com um lugar para além do arco-íris aonde todos os sonhos se realizariam. Um tornado leva a menina até aquele lugar súbita e exageradamente colorido, “muitas léguas a leste de lugar nenhum”. Mas lá é longe de casa – e, agora, ela só quer voltar. Para isso, terá que percorrer a longa estrada dos tijolos amarelos, até o castelo do Mágico de Oz. No caminho ela fará alguns amigos e, com seus sapatinhos vermelhos, perseguirá o caminho de volta para casa. O Mágico de Oz é um clássico moderno: nossa era é cheia de possibilidades e maravilhas, mas os sonhos coloridos são, freqüentemente, dominados por magos manipuladores de truques - seus poderes são vazios. Nós, que temos os DNAs mapeados, que quebramos as previdências sociais do mundo com nossa longevidade, que tornamos o globo simultâneo, que conectamos instantaneamente qualquer informação, que achamos demorado e enfadonho cruzar continentes em algumas horas, que ampliamos e aprofundamos as discussões sobre os nossos direitos a impensáveis diversidades uma geração atrás, carregamos nós áspera e gorda travada na garganta, sempre e em qualquer lugar – temos, sempre, saudades de casa. Uma casa ancestral e irreconhecível, um lar, que é sempre busca. E é disso que aquele velho filme nos lembra, mostrando a nossa frente aquela interminável estrada de tijolos amarelos.

Garland, que tinha 17 anos, ganhou um Oscar especial pelo filme, em 1939. O Mágico de Oz também ganhou o prêmio pela melhor trilha original e por essa que é uma das mais lindas canções da história do cinema:

Somewhere Over the Rainbow


Judy Garland morreu prematuramente, aos 47 anos, dois quais trabalhou por quase 45. Fez 32 filmes, teve um programa de tv indicado 10 vezes ao Emmy, gravou mais de 100 canções, 12 álbuns e um deles, Judy at Carnegie Hall, recebeu 5 prêmios Grammy em 1962, incluindo o de melhor disco do ano. Não sou um fã de seu trabalho fora do Mágico de Oz, mas adoro a sua versão de Insensatez, do nosso Tom Jobim.



ISRAEL KAMAKAWIWO’OLE

Ele tinha uma voz macia, um corpo que engordou desde a infância até morrer, aos 38 anos, em 1997. Era adorado no Havaí, cuja música tradicional ele difundiu com seu estilo contemporâneo. Mas o que fez dele um astro premiado internacionalmente foi sua versão de

Somewhere Over the Rainbow



OUTRO ANIVERSARIANTE

A outra comemoração é coisa para esticar a conversa: também neste 10 de junho, em 1865, na cidade de Munique, estreava a ópera que, mudaria o curso da música ocidental – Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Ela lança mão de uma lenda celta, cantada em versos pela primeira vez por Gottfried de Strasburgo, em 1210, para contar a estória de mais este amor impossível que, modificada e transformada em grande arte por Wagner, se transformará em um casal universal, como Romeo e Julieta. Entre a primeira vez em que pensou nela até a sua completá-la, Wagner levou 11 anos. Ela é a sua obra mais madura, a minha preferida e poderia ter estrado no Rio de Janeiro, a convite do imperador Pedro II feito desde 1857. Mas o Rio de Janeiro não foi o único a perder a oportunidade – os músicos em Viena desistiram depois de 54 ensaios sucessivos e extenuantes.

A importância e a grandeza dessa obra não cabem assim, num pequeno comentário. Por isso, vou me estender por algumas postagens ao longo dos próximos dias. Para começar, o começo: selecionei uma versão que considero primorosa do seu Prelúdio, executada pela Orquestra Sinfônica de Chicago, sob a direção de Georg Solti, na época seu diretor musical. Uma oportunidade de ouvir o que ficou consagrado como o “som de Chicago”, uma construção que passou por regentes como Rafael Kubelik e Fritz Reiner, mas que se consolidou nos 22 anos de Solti à frente da orquestra. Esta escolha tem, ainda, uma outra razão importante. Por causa de seu anti-semitismo e pelo uso que o nazismo fez dele, Wagner tornou-se um nome maldito durante décadas – e ainda hoje, entre uma grande parte do público. Do ponto de vista político, histórico e moral isto não se constitui, na miha opinião, uma injustiça. Wagner escreveu e publicou o que escreveu a esse respeito. Mas isso não deve nos privar da genialidade de sua música. O primeiro a afirmar esta idéia enfática e corajosamente, foi um grande músico judeu, perseguido pelo nazismo, chamado Georg Solti, ao gravar, pela DECCA, todo o ciclo conhecido como O Anel dos Nibelungos, uma tetralogia formada pelas óperas O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. A gravação, com a Orquestra Filarmônica de Viena, foi a primeira a ser realizada em estéreo, levou 7 anos para ser concluída, tem 19 horas de música, reuniu um elenco de estrelas como Birgit Nilsson, Kirsgen Flagstad, Hans Hotter e Dietrich Fischer-Dieskau e é considerada, até hoje, a melhor versão realizada. Aliás, Georg Solti é o recordista no número de Grammy – o grande prêmio do mundo do disco - que ganhou: um total de 33.

No dia 5 de setembro de 1997, quando Solti morreu, subitamente, em sua casa em Antibes, na França, eu estava em uma sala de ensaios na ópera de Sófia, na Bulgária. Quando a notícia foi dada, eu vi um elenco formado por quase 200 pessoas entre orquestra, coro, cantores e técnicos, chorar. Eles, como a música, tinham perdido um amigo. O mundo perdia um exemplo. Vamos ouvi-lo.

PRELÚDIO PRIMEIRO ATO - TRISTÃO E ISOLDA - Richard Wagner



MÚSICA & HUMOR







Anos atrás, final dos anos 80, eu queria criar um festival de música de humor. A idéia era óbvia para quem se lembrasse das marchinhas de carnaval, de tantos sambas do Noel, do Moreira da Silva, do Adoniran Barbosa, de músicas de duplo, triplo, múltiplos sentidos do Brasil inteiro; ou que assistisse ao Joelho de Porco ou ao Língua de Trapo, ao Tangos & Tragédias, ao Garganta Profunda, entre tantos outros grupo maravilhosos daqui, mas, também, tivesse o privilégio de ouvir o argentino Les Luthiers, o americano P.D.Q.Bach, o inglês Dudley Moore, para citar alguns poucos exemplos.

Enquanto não ponho a idéia de novo na agenda, lanço aqui no nosso CLUBE o Festival Internacional e Permanente de Música de Humor, cuja única finalidade é nos fazer rir. Embora, como nos ensinava Leonard Bernstein, o humor musical nem sempre provoque gargalhadas, mas uma daquelas admirações que temos diante da perspicácia provocante da inteligência. Espero que gostem. Para o lançamento, vamos ouvir dois “clássicos” do humor musical. O primeiro, formado por uma dupla genial, famosa por sua interpretação da Rapsódia Húngara No.2, de Brahms, numa versão para piano e orquestra. Senhoras e senhoras, Tom & Jerry.



Nascido Børge Rosenbaum em Copenhagem, Dinamarca, em 1909, ele ficou conhecido como Victor Borge. Victor formou-se pela Real Academia Dinamarquesa e tornou-se um aclamado pianista, mas ficava nervoso ao ter que repetir sempre as mesmas obras para um público sisudo. Fugiu da invasão nazista ao seu país para os Estados Unidos, aonde foi reconhecido e lançado para o sucesso por Bing Crosby. Não se preocupem porque este não será o único número que apresentarei com ele. Para uma audição comparada com Tom & Jerry, tendo como peça de confronto a mesma Rapsódia No.2, de Brahms, Victor Borge.




quarta-feira, 6 de junho de 2007

ANIVERSARIANTE DO DIA: DIEGO VELÁZQUEZ








Las Meninas - Diego Velázquez
Museo del Prado - Madri


Hoje é o aniversário de nascimento de Diego Rodríguez de Silva Velázquez, que nasceu num 6 de junho como este, no ano de 1599, na magnífica cidade de Sevilha, na Espanha, para tornar-se o seu mais importante artista no século 17. Pelos seus efeitos de forma e textura, espaço, luz e atmosfera – criados pela brilhante diversidade de técnicas do pincel e por sutis harmonias de cor, foi o precursor dos impressionistas do século 19. Para saber mais sobre ele, leia aqui, na confiável Enciclopédia Britânica.

Vamos aproveitar e reunir os nossos aniversariantes recentes neste filme com as obras de Diego e a Suíte espanhola para piano, Op. 47, No.1: Granada, de Isaac Albéniz, aqui adaptada para o violão.



O quadro lá de do início - Las Meninas - é uma obra-prima de luzes e cores, mas também de narrativa. Todas as figuras estão presentes, arrumadas genialmente - um auto-retrato do artista à esquerda, reflexos do Rei Felipe IV e da Rainha Mariana no espelho no fundo da sala, e da Infanta Margarita com as suas meninas, como eram chamadas as damas de honra, na frente. O olhar sempre pode ir adiante, descobrir e descobrir, porque ali não está só um quadro, mas uma crônica inteira da côrte, da Espanha, das artes, naquela época, além de uma provocação que ecoa hoje, agora. Pensar também é assim – memórias, imaginações, devaneios, vontades, uma coisa que leva a outra, que leva a outra, e mais uma, ainda, sempre mais uma... E daí?

Daí que Velázquez me lembrou da Espanha, que me lembrou Madrid, que me lembrou seus museus, que me lembrou os artistas que ficaram encantados com aquela obra do mestre Diego. Como Francisco Goya, que é considerado o “inventor” de sua própria arte, só creditando o seu desenvolvimento ao conterrâneo Velázquez. Em 1778, Goya trabalhou longamente numa série de gravuras que reproduzem retratos da realeza, num total de vinte e um trabalhos sobre Velázquez, dos quais só publicou 11, como este:




Las Meninas, após Velázquez - Francisco Goya
Metropolitan Museum – Nova Iorque





Ou como Picasso que se fechou no estúdio da sua casa La Californie, perto de Cannes, entre agosto e dezembro de 1957, para produzir 58 óleos sobre tela a partir de Las Meninas – quarenta e quatro inspiradas diretamente no modelo, nove pequenos pombos, três paisagens e duas interpretações livres. Picasso estava mais interessado no desenvolvimento do seu próprio pensamento, do que nas “idéias”, elas mesmas, como coisas estáticas e admiráveis, que podem interromper o fluxo, cobrar compromissos, paralisar.







Las Meninas, após Velázquez - Pablo Picasso.
Museu Picasso, Barcelona.



Ou, ainda, a fotógrafa austríaca Jaqueline Vanek, que “pensou” Las Meninas com fotografia e colagem:







Las Meninas, após Velázquez - Jaqueline Vanek
Coleção da Artista


O quadro registra um momento, um exato e veloz momento, quando os pais da Infanta, Reis de Espanha, entram na sala do Palácio de Alcàsser, em Madri, onde o artista trabalhava, para visitar a pequena Marquerita - ela é a protagonista do evento, no centro e na frente. As figuras deles estão no espelho, no centro e ao fundo, e tudo na imagem se organiza neles. Mas os olhares convergem – neste duplo que Velázquez cria pelo artifício do espelho – “para cá”, para nós, eu e vocês, e todos os que olharam alguma vez para Las Meninas nestes últimos 350 anos – o quadro se dirige, coloca em destaque, este público imenso, incontavelmente maior do que todas as cortes de Espanha – o público. Nós. Todos nós.

Um, mais um, outro, outro ainda, um para o outro, para o outro, numa cadeia possivelmente infinita de olhares e pensares. Idéia-criação que dispara idéias e criações. E daí?

Daí que Yo-Yo Ma vai se apresentar em São Paulo três vezes – 18, 19 e 20 de junho. Daí que continuam a perguntar se ele é o número 1 do violoncello, e ele tem que explicar, como todo músico tem que explicar - que música não é campeonato de nada. Daí que continuam a dizer que a música popular e a música clássica e tal e tal. E ele tem que explicar, com muito cuidado, que as categorias são outras.

E daí?

Daí que precisamos insistir em cadeias que podem ser infinitas – de imagens, de obras-primas, de interpretações e interpretações, de entendimentos e diálogos, onde as categorias classificatórias, emperram, atrapalham, desviam.

E daí? Daí, Yo-Yo Ma, um violoncelo, uma Suíte de Bach, e quinhentos anos de arte sobre a mais intrigante beleza.

Daí que olhei para o lado e minha mulher tinha minha filha nos braços e elas se olhavam. E eu pensei nestes rostos femininos, nestas imagens em reflexo e aprendizagem e mútua invenção. Nestes rostos que são mais femininos quanto mais são permanente transformação.

Eu, o que olha, o que busca, o que perplexo, admirado de amor, me confesso.





segunda-feira, 4 de junho de 2007

PARA SEMPRE ELIS









Fomos jantar com uma amiga com quem tínhamos muito para conversar. A amiga queria mesmo era brincar com a Lara. Chegamos cedo, o movimento ainda era pequeno e nas telas de plasma ela cantava. E brigava. E desafiava meio mundo. E cantava. Elis Regina estava lá. Outra vez. E sempre.

Em 2002, quando todos lembramos os 20 anos de saudades dela, eu publiquei um artigo sobre andamentos lentos, como os Adágios, sobre as nossas cotidianas e desagradáveis correrias, e que terminava com uma carta para ela – que sabia, como ninguém, entre tantas outras coisas, cantar lentamente. Velozes, outros cinco anos se passaram. E era como se Elis, nas telas de plasma do restaurante, olhasse para mim e cobrasse:

- E então... está esperando o que?

Como nunca serei eu a dizer não a ela, ele está lá, na seção de ARTIGOS, com uma pequena seleção de interpretações inesquecíveis. Fico devendo “Arrastão”. Para começar, um pouco do seu canto, da sua música, do seu humor, do seu talento cênico: ELIS REGINA.


sexta-feira, 1 de junho de 2007

BOM PROGRAMA












Robert Donati ao piano

(Acervo Robert Donati)


Fim de semana no frio da serra, belas paisagens, velhas fotografias, boas estórias para ouvir, história para conhecer, personagens incríveis e um bocado de música. Tudo isso você encontra no maravilhoso texto sobre Robert Donati que Marcos Sá Corrêa publicou hoje em O Eco.

A música... ele falou, falou, mas não mostrou. Então, deixa que o Clube fornece.

Samba pra Vinicius - Toquinho, Quarteto em Cy, Chico Buarque

As Valquírias - R. Wagner - James Levine - Filarmônica de berlin

Concerto No.1 Ré menor BWV 1052 - J.S.Bach - Glenn Gould e Leonard Bernstein

MÚSICA, MAESTRO!

Nossas pesquisas apontam, neste momento, para dois vencedores: música sinfônica e Nova Iorque. Para homenageá-los, selecionei uma gravação que reúne as duas nas mãos de Leonard Bernstein, no Royal Albert Hall, em Londres, 1976. Razões técnicas obrigam a dividir em duas partes. Bom fim de semana!

Rhapsody in Blue - George Gershwin - pt.1/2

Rhapsody in Blue - George Gershwin - Leonard Bernstein - pt.2/2

PALAVRA DO MAESTRO 0003

Wetware – substantivo masculino.

O cérebro humano; o ser humano considerado quanto a sua lógica e habilidades com computadores.

VOCÊ SABIA?

Quando os termos "software" e "hardware" surgiram – ali pela metade do século XX - havia uma onda de palavras em inglês com “ware”. Esta era uma palavra perfeita para compor outras palavras, já que ela tanto significa artigos manufaturados, produtos de arte ou artesanato, como artigos comerciais, mas também itens intangíveis, como serviços ou habilidades. No próprio meio tecnológico, na Califórnia dos anos 70, quando alguns pesquisadores e criadores acharam que estava aparecendo uma tecnolocracia meio endoidecida de pretensão, começaram a provocar os primeiros nerds para que eles não se esquecessem de seus wetware, o equipamento-programa fundamental: o cérebro, o único capaz de “rodar” este privilégio insubstituível da nossa humanidade: o humor.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

UM PALCO ILUMINADO


LA TRAVIATTA
Giuseppe Verdi
Opera Bastille - PARIS

terça-feira, 29 de maio de 2007

ANIVERSARIANTE DO DIA: ISAAC ALBÉNIZ


Hoje é aniversario do compositor espanhol ISAAC ALBÉNIZ, que nasceu em Camprodón, Girona, em 29 de maio de 1860.

Ele foi o mais velho da geração que reuniu também Enrique Granados, Manuel de Falla e Joaquin Turina, e que fez dos vários e brilhantes caminhos do flamenco e do cante jondo, do aurresku basco, da jota de Navarra, da sardana catalã, da seguidilla e do bolero de Castela, a larga avenida do nacionalismo espanhol. Gosto da sua música e das peripécias da sua vida.

Albéniz poderia ter sido apenas mais um menino prodígio que estreou aos 4 anos no Teatro Romea de Barcelona e que aos 6 foi para Paris estudar com Marmontel. Foi mais um anunciado como “o novo Mozart” – agora mesmo há outro, sobre o qual escreverei em breve. Sobreviveu ao que o violinista Joshua Heifetz (também ele uma vítima) chamava “a doença do menino prodígio” fugindo do pai explorador aos 10 anos de idade!

Desde então, Albéniz foi seu próprio empresário. Organizou recitais e concertos para si mesmo em Ávila, Peñaranda de Bracamonte, Zamora, Toro, Valladolid, León, Logroño, Zaragoza, Barcelona, Málaga, Granada e Cádiz. Quando viu que cuidava muito bem de si próprio e que conquistava um público disposto a pagar para ouvi-lo tocar piano, tratou de deixar seu país e conquistar o mundo – aos 12 anos tocou no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, aonde foi alcançado pelo pai que, lá mesmo, decidiu deixá-lo em paz. No ano seguinte, sempre sozinho, Albéniz apresentou-se em Porto Rico, Havana e Santiago de Cuba. Seguiu para o México e, de lá, para ser carregador de malas em Nova Iorque, cidade que não reconheceu seu talento e perdeu-o para um sucesso consagrador em São Francisco. De lá, partiu para uma série de concertos em Londres, de onde seguiu para estudar em Leipzig e, logo depois em Bruxelas, cidade aonde perdeu seu melhor amigo de libertinagem, que se suicidou depois que os dois foram levados aos tribunais acusados de devassidão. Aos 18 anos foi encontrar Liszt em Budapeste, de quem se tornou um aluno predileto, e que o acompanhava por toda parte. Para descansar, ingressa como noviço entre os beneditinos de Salamanca e, entre uma fuga e outra do convento, dirige uma companhia ambulante de zarzuelas. Casou aos 23 anos com Rosina Jordana, foi um marido e um pai exemplar, dando início a uma vida de criação intensa e carreira pianística muito bem sucedida. Um exemplo para quem acha que artistas precisam sofrer para criar.

Se você quer saber mais sobre ISAAC ALBÉNIZ, um bom começo é o site do CENTRO VIRTUAL CERVANTES.

Para comemorar a data, vamos ouvir JOHN WILLIAMS tocar ASTÚRIAS (Leyendas).