quarta-feira, 6 de junho de 2007

ANIVERSARIANTE DO DIA: DIEGO VELÁZQUEZ








Las Meninas - Diego Velázquez
Museo del Prado - Madri


Hoje é o aniversário de nascimento de Diego Rodríguez de Silva Velázquez, que nasceu num 6 de junho como este, no ano de 1599, na magnífica cidade de Sevilha, na Espanha, para tornar-se o seu mais importante artista no século 17. Pelos seus efeitos de forma e textura, espaço, luz e atmosfera – criados pela brilhante diversidade de técnicas do pincel e por sutis harmonias de cor, foi o precursor dos impressionistas do século 19. Para saber mais sobre ele, leia aqui, na confiável Enciclopédia Britânica.

Vamos aproveitar e reunir os nossos aniversariantes recentes neste filme com as obras de Diego e a Suíte espanhola para piano, Op. 47, No.1: Granada, de Isaac Albéniz, aqui adaptada para o violão.



O quadro lá de do início - Las Meninas - é uma obra-prima de luzes e cores, mas também de narrativa. Todas as figuras estão presentes, arrumadas genialmente - um auto-retrato do artista à esquerda, reflexos do Rei Felipe IV e da Rainha Mariana no espelho no fundo da sala, e da Infanta Margarita com as suas meninas, como eram chamadas as damas de honra, na frente. O olhar sempre pode ir adiante, descobrir e descobrir, porque ali não está só um quadro, mas uma crônica inteira da côrte, da Espanha, das artes, naquela época, além de uma provocação que ecoa hoje, agora. Pensar também é assim – memórias, imaginações, devaneios, vontades, uma coisa que leva a outra, que leva a outra, e mais uma, ainda, sempre mais uma... E daí?

Daí que Velázquez me lembrou da Espanha, que me lembrou Madrid, que me lembrou seus museus, que me lembrou os artistas que ficaram encantados com aquela obra do mestre Diego. Como Francisco Goya, que é considerado o “inventor” de sua própria arte, só creditando o seu desenvolvimento ao conterrâneo Velázquez. Em 1778, Goya trabalhou longamente numa série de gravuras que reproduzem retratos da realeza, num total de vinte e um trabalhos sobre Velázquez, dos quais só publicou 11, como este:




Las Meninas, após Velázquez - Francisco Goya
Metropolitan Museum – Nova Iorque





Ou como Picasso que se fechou no estúdio da sua casa La Californie, perto de Cannes, entre agosto e dezembro de 1957, para produzir 58 óleos sobre tela a partir de Las Meninas – quarenta e quatro inspiradas diretamente no modelo, nove pequenos pombos, três paisagens e duas interpretações livres. Picasso estava mais interessado no desenvolvimento do seu próprio pensamento, do que nas “idéias”, elas mesmas, como coisas estáticas e admiráveis, que podem interromper o fluxo, cobrar compromissos, paralisar.







Las Meninas, após Velázquez - Pablo Picasso.
Museu Picasso, Barcelona.



Ou, ainda, a fotógrafa austríaca Jaqueline Vanek, que “pensou” Las Meninas com fotografia e colagem:







Las Meninas, após Velázquez - Jaqueline Vanek
Coleção da Artista


O quadro registra um momento, um exato e veloz momento, quando os pais da Infanta, Reis de Espanha, entram na sala do Palácio de Alcàsser, em Madri, onde o artista trabalhava, para visitar a pequena Marquerita - ela é a protagonista do evento, no centro e na frente. As figuras deles estão no espelho, no centro e ao fundo, e tudo na imagem se organiza neles. Mas os olhares convergem – neste duplo que Velázquez cria pelo artifício do espelho – “para cá”, para nós, eu e vocês, e todos os que olharam alguma vez para Las Meninas nestes últimos 350 anos – o quadro se dirige, coloca em destaque, este público imenso, incontavelmente maior do que todas as cortes de Espanha – o público. Nós. Todos nós.

Um, mais um, outro, outro ainda, um para o outro, para o outro, numa cadeia possivelmente infinita de olhares e pensares. Idéia-criação que dispara idéias e criações. E daí?

Daí que Yo-Yo Ma vai se apresentar em São Paulo três vezes – 18, 19 e 20 de junho. Daí que continuam a perguntar se ele é o número 1 do violoncello, e ele tem que explicar, como todo músico tem que explicar - que música não é campeonato de nada. Daí que continuam a dizer que a música popular e a música clássica e tal e tal. E ele tem que explicar, com muito cuidado, que as categorias são outras.

E daí?

Daí que precisamos insistir em cadeias que podem ser infinitas – de imagens, de obras-primas, de interpretações e interpretações, de entendimentos e diálogos, onde as categorias classificatórias, emperram, atrapalham, desviam.

E daí? Daí, Yo-Yo Ma, um violoncelo, uma Suíte de Bach, e quinhentos anos de arte sobre a mais intrigante beleza.

Daí que olhei para o lado e minha mulher tinha minha filha nos braços e elas se olhavam. E eu pensei nestes rostos femininos, nestas imagens em reflexo e aprendizagem e mútua invenção. Nestes rostos que são mais femininos quanto mais são permanente transformação.

Eu, o que olha, o que busca, o que perplexo, admirado de amor, me confesso.





2 comentários:

Anônimo disse...

E daí? Daí que as meninas de Vélásquez são as "minhas meninas", lindas, pequeninas que eu embalo em meus braços de mãe orgulhosa, "as minhas meninas" embaladas nos braços da avó mais que orgulhosa por serem a continuação da "cadeia de mulheres": netas, filhas, mães, avós, bisavós... E daí? Daí leio as palavras do "neto mais velho" escrevendo a seu pai palavras sobre sua admiração filial... e daí vejo os "meus meninos", meus netos,embalados tambem nos braços desta velha avó que tambem embalou seu pai e que foi embalada no amor de "seu avô", e nos braços fortes de meu pai, que tambem embalou... e daí, segue a cadeia "dos homens da minha vida" dos quais sinto tanto orgulho e felicidade de tê-los perto de mim e na minha memória... figuras de mulheres e de homens... e daí, que só se apagarão da minha história no último segundo da minha lucidez.
Bravo, bravíssimo maestro!!!!!!

Anônimo disse...

Sou apaixonada por esse quadro do Velazques, As Meninas, tenho dele uma repordução que meu ex marido trouxe do Museo do Prado...adoro observar seus muitos detalhes... e seus mistérios, o reflexo do próprio pintor num espelho.
Aliás, adoro essas fases da pintura espanhola. Goya, El Greco, depois Picasso, Miró, Dali...gêneros que se foram somando para nos fazer sonhar com a imagem e suas intrigantes texturas, mensagens que nos ligam ao céu, que nos ligam à terra. parabéns pela lembrança... emociona-me
Cida Torneros