segunda-feira, 18 de junho de 2007

LÍNGUA AFIADA

Estava com saudades de escolher as palavras aqui para o Clube. Mas os aniversariantes andam provocando mais e elas, coitadinhas, vão sendo adiadas. Há por aí uma campanha contra palavras importadas, principalmente do inglês. A mim parece um desperdício. Os idiomas se fortalecem na troca de vocabulários e se enfraquecem na adoção de sintaxes estranhas.

Se repararmos, há uma tendência na adoção de palavras e termos de povos que se destacam em alguma atividade em algum momento. O direito romano legou uma terminologia em latim usada por advogados e tribunais no mundo inteiro até hoje – até com algum exagero. O francês dominou os termos técnicos da gastronomia e da culinária, que logo teve que compartilhar com o italiano e, mais recentemente, já se percebe um avanço enorme de palavras chinesas, japonesas e tailandesas, desde que começou a adoção de pratos, produtos e técnicas orientais na comida do ocidente. O italiano é o idioma das indicações musicais mas não é – como houve que defendesse tempos atrás! – a única língua para cantar ópera – Mozart teve que brigar com a corte vienense para escrever suas óperas em alemão. No Brasil essa luta durou, pasmem!, até que Alberto Nepomuceno, com O Garatuja, demonstrasse que se podia cantar em português. Por isso, não é nenhum absurdo que termos da publicidade e do marketing, como da internet, sejam em inglês. Nós, brasileiros, importamos o futebol da Inglaterra, nos tornamos a referência mundial do esporte nos últimos 50 anos e criamos e adaptamos toda a terminologia inglesa ao português. Amar o meu idioma – como tudo mais – não é pretender defender nele uma pureza idealizada e reacionária. Amar meu idioma é torná-lo mais dinâmico na imensa cacofonia da Babel globalizada.

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