terça-feira, 12 de junho de 2007

ANIVERSARIANTES DO FIM DE SEMANA


MUITO A COMEMORAR


Pois é, gostei de comemorar aniversários. Neste fim de semana, aconteceram dois muito importantes.

No dia 10, Judy Garland, nascida neste dia, em 1922. Para mim, ela será para sempre Dorothy, a menina do interior empoeirado e triste do Kansas, que sonhava com um lugar para além do arco-íris aonde todos os sonhos se realizariam. Um tornado leva a menina até aquele lugar súbita e exageradamente colorido, “muitas léguas a leste de lugar nenhum”. Mas lá é longe de casa – e, agora, ela só quer voltar. Para isso, terá que percorrer a longa estrada dos tijolos amarelos, até o castelo do Mágico de Oz. No caminho ela fará alguns amigos e, com seus sapatinhos vermelhos, perseguirá o caminho de volta para casa. O Mágico de Oz é um clássico moderno: nossa era é cheia de possibilidades e maravilhas, mas os sonhos coloridos são, freqüentemente, dominados por magos manipuladores de truques - seus poderes são vazios. Nós, que temos os DNAs mapeados, que quebramos as previdências sociais do mundo com nossa longevidade, que tornamos o globo simultâneo, que conectamos instantaneamente qualquer informação, que achamos demorado e enfadonho cruzar continentes em algumas horas, que ampliamos e aprofundamos as discussões sobre os nossos direitos a impensáveis diversidades uma geração atrás, carregamos nós áspera e gorda travada na garganta, sempre e em qualquer lugar – temos, sempre, saudades de casa. Uma casa ancestral e irreconhecível, um lar, que é sempre busca. E é disso que aquele velho filme nos lembra, mostrando a nossa frente aquela interminável estrada de tijolos amarelos.

Garland, que tinha 17 anos, ganhou um Oscar especial pelo filme, em 1939. O Mágico de Oz também ganhou o prêmio pela melhor trilha original e por essa que é uma das mais lindas canções da história do cinema:

Somewhere Over the Rainbow


Judy Garland morreu prematuramente, aos 47 anos, dois quais trabalhou por quase 45. Fez 32 filmes, teve um programa de tv indicado 10 vezes ao Emmy, gravou mais de 100 canções, 12 álbuns e um deles, Judy at Carnegie Hall, recebeu 5 prêmios Grammy em 1962, incluindo o de melhor disco do ano. Não sou um fã de seu trabalho fora do Mágico de Oz, mas adoro a sua versão de Insensatez, do nosso Tom Jobim.



ISRAEL KAMAKAWIWO’OLE

Ele tinha uma voz macia, um corpo que engordou desde a infância até morrer, aos 38 anos, em 1997. Era adorado no Havaí, cuja música tradicional ele difundiu com seu estilo contemporâneo. Mas o que fez dele um astro premiado internacionalmente foi sua versão de

Somewhere Over the Rainbow



OUTRO ANIVERSARIANTE

A outra comemoração é coisa para esticar a conversa: também neste 10 de junho, em 1865, na cidade de Munique, estreava a ópera que, mudaria o curso da música ocidental – Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Ela lança mão de uma lenda celta, cantada em versos pela primeira vez por Gottfried de Strasburgo, em 1210, para contar a estória de mais este amor impossível que, modificada e transformada em grande arte por Wagner, se transformará em um casal universal, como Romeo e Julieta. Entre a primeira vez em que pensou nela até a sua completá-la, Wagner levou 11 anos. Ela é a sua obra mais madura, a minha preferida e poderia ter estrado no Rio de Janeiro, a convite do imperador Pedro II feito desde 1857. Mas o Rio de Janeiro não foi o único a perder a oportunidade – os músicos em Viena desistiram depois de 54 ensaios sucessivos e extenuantes.

A importância e a grandeza dessa obra não cabem assim, num pequeno comentário. Por isso, vou me estender por algumas postagens ao longo dos próximos dias. Para começar, o começo: selecionei uma versão que considero primorosa do seu Prelúdio, executada pela Orquestra Sinfônica de Chicago, sob a direção de Georg Solti, na época seu diretor musical. Uma oportunidade de ouvir o que ficou consagrado como o “som de Chicago”, uma construção que passou por regentes como Rafael Kubelik e Fritz Reiner, mas que se consolidou nos 22 anos de Solti à frente da orquestra. Esta escolha tem, ainda, uma outra razão importante. Por causa de seu anti-semitismo e pelo uso que o nazismo fez dele, Wagner tornou-se um nome maldito durante décadas – e ainda hoje, entre uma grande parte do público. Do ponto de vista político, histórico e moral isto não se constitui, na miha opinião, uma injustiça. Wagner escreveu e publicou o que escreveu a esse respeito. Mas isso não deve nos privar da genialidade de sua música. O primeiro a afirmar esta idéia enfática e corajosamente, foi um grande músico judeu, perseguido pelo nazismo, chamado Georg Solti, ao gravar, pela DECCA, todo o ciclo conhecido como O Anel dos Nibelungos, uma tetralogia formada pelas óperas O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. A gravação, com a Orquestra Filarmônica de Viena, foi a primeira a ser realizada em estéreo, levou 7 anos para ser concluída, tem 19 horas de música, reuniu um elenco de estrelas como Birgit Nilsson, Kirsgen Flagstad, Hans Hotter e Dietrich Fischer-Dieskau e é considerada, até hoje, a melhor versão realizada. Aliás, Georg Solti é o recordista no número de Grammy – o grande prêmio do mundo do disco - que ganhou: um total de 33.

No dia 5 de setembro de 1997, quando Solti morreu, subitamente, em sua casa em Antibes, na França, eu estava em uma sala de ensaios na ópera de Sófia, na Bulgária. Quando a notícia foi dada, eu vi um elenco formado por quase 200 pessoas entre orquestra, coro, cantores e técnicos, chorar. Eles, como a música, tinham perdido um amigo. O mundo perdia um exemplo. Vamos ouvi-lo.

PRELÚDIO PRIMEIRO ATO - TRISTÃO E ISOLDA - Richard Wagner



Nenhum comentário: